People who are different change the world

20/04/2012

Profissão, Mãe.

Tento recuar dois passos atrás, e tentar a quase impossível distância para ver com lucidez. Três anos de enorme intensidade, vividos diariamente, quase 24 horas sobre 24 horas. Respiramos o mesmo ar, compreendemos-nos com um olhar, a cumplicidade é total. Mãe e filho, filho e Mãe, qual de nós é mais dependente? Não sei, mas tenho a certeza que vou ser eu a sofrer mais com os primeiros passos da autonomia. Este ano, em Setembro quando finalmente entrar num infantário, sei que para ele se abrirá um mundo novo, cheio de novos estímulos, de coisas a aprender, de amiguinhos, de uma Professora fascinante, que tudo será Novo e Belo e que se abrirá à Descoberta. O que vou ganhar em liberdade, vou perder na alegria esfuziante em que qualquer saída de casa se transforma, tudo é motivo de gargalhadas, corridas loucas, descobertas de flores fascinantes entre as pedras da calçada. Acho que vou aproveitar este privilégio de o ter completamente para mim até à última gota. Parques, jardins, museus, quinta pedagógica, esperem por nós! Aproveitar os excelentes programas gratuitos que a cidade oferece para quem tem tempo disponível e faz muitas contas. É necessário ter um bocado de imaginação, pôr a lancheira a funcionar e ir, porque nesta idade tudo é um deslumbramento e uma festa, não é preciso gastar quase nada. Apesar das dificuldades pessoais e profissionais que a escolha de ficar em casa com o meu Pku, implicaram, acho que nunca mais vou ter um período tão intensamente feliz na minha vida. E cansativo também, a energia dele é inesgotável e eu chego ao fim do dia mais cansada do que quando trabalhava intensamente no Atelier.Por vezes apetece-me respirar longe dele, e retomar coisas tão simples como andar com o meu passo normal na rua, mas rapidamente dou por mim a rir-me sózinha das maluqueiras, só de me lembrar do divertido que é passear com o meu duende sempre aos saltinhos e corridas. Desde o fim do Verão passado que deixou as sestas e as fraldas de dia, agora, sem mais nem menos, esqueceu-se da xuxa, estou a deixar de lhe dar o biberon da noite. Até sinto uma vertigem, quando penso que está a crescer tão depressa. Parece que já o estou a sentir escapar-se-me por entre os dedos. Sei que sou criticada por ser tão agarrada, por este relacionamento que para alguns seria sufocante, mas que a mim me preenche de uma forma única e total. Sei que a condição Pku, agravou e reforçou a intensidade desta ligação. Que a fragilidade dele se projecta em mim como um espelho e que me sinto duplamente frágil por ele. Esqueço-me com facilidade dessa condição porque vivemos os dois no nosso mundo, na nossa redoma, onde eu controlo tudo o que ele come e o que ele faz. Sei que este ano será o início do confronto com a realidade, o colégio, assim como lhe abrirá os olhos para as maravilhas da socialização, também o vai fazer descobrir a doença e as suas limitações. Vai descobrir que afinal é diferente. E é aí que eu me vou começar a preocupar seriamente. O impacto dessa descoberta, não o imagino. Mas angustia-me.

12 comentários:

  1. Sofia,
    Que reflexão maravilhosa e tão emocionante!
    Traduziste em palavras uma coisa que eu já inconscientemente sentia mas que nunca tinha verbalizado, a condição pku do Vasco também reforçou inegavelmente a minha ligação com ele. E esta talvez seja a razão fudamental da minha dedicação a esta causa. Também temo o momento em o Vasco tomar consciência da doença.
    Na minha rotina diária tento sempre gerir esta situação de forma natural e não dramatizar, minimizando as diferenças que vão surgiundo, para que ele sinta que a doença é algo com que se pode conviver de forma tranquila e não um peso avassalador ou algo que o limite de alguma forma. Cada ser humano tem as suas particularidades e esta doença é uma delas. Nem mais nem menos. A minha profissão também é mãe, irmã. Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Paula,
      Eu sei que não é muito saudável este desejo irreprimível de os superprotegermos, de apararmos todos os golpes, todas as quedas. Porque a realidade impõe-se, mais tarde ou mais cedo. E como tu bem dizes, gerir e conviver sem dramas com esta "particularidade" entre as outras, é o caminho. Mães é o que somos, simplesmente Mães, e esse traço comum, profundo, que nos une e que permitiu que nos encontrássemos neste caminho de crescimento dos nossos meninos, é muito forte. É também o meu fundamento, e não vamos descansar de velar pela felicidade deles.
      Cá estaremos, Mães e Irmãs unidas por eles.
      Beijinhos da Mana mais velha

      Eliminar
  2. Ola Sofia
    Ao ler as tuas palavras, parece que me estas a ler os meus pensamentos.
    Ja são 16 meses sempre com o André 24 sobre 24 horas, e em nada me arrependo pois é tão bom ter sempre o meu pequenino junto de mim, sentir aquele cheirinho do meu bebé, ai é tão bom.
    Sei que no meu caso ainda faltam 3 anos para eu ter de deixar o meu pequenino e ter de ir trabalhar, mas as vezes dou por mim a pensar que esse dia vai chegar, e só de pensar sinto um aperto no peito, uma angustia, saudade, não sei descrever tudo o que sinto, simplesmente nem me gosto de lembrar.
    Quando falo a alguém , dizem-me que ainda é muito cedo para pensar nisso, que falta muito tempo ainda, mas eu as vezes dou por mim a pensar, talvez para aos bocadinhos ir encaixando na minha cabeça que como as outras crianças e as outras mães o André terá de ir para a escolinha e eu ter que ir trabalhar .
    Outro receio é sobre a alimentação, tenho medo que na escolinha ele depois possa comer alguma coisa que não possa, e eu não vou estar la para ver e dizer se pode ou não pode comer. Mas aí vou ter de aprender em confiar o meu filho neste caso às professoras dele.
    Quando o meu marido faz turno noite, opto por dormir com o André, pois sabe tão bem te-lo juntinho de mim , e quando ele de manha acorda e já não quer dormir la começa a puxar os meus cabelos, fio a fio muito devagarinho para me acordar. E em nada me aborreço de estar com ele.(Embora saiba que os psicólogos desaconselham os pais dormirem com os filhos.)
    Tudo isto pare te dizer em como te compreendo e me revejo.

    Obrigada pela tabela das proteínas.
    Beijinhos
    Ana Paula

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ana Paula,
      É isso mesmo! Mas teremos que os deixar crescer e estes anos já são nossos, pertencem-nos. Eu sinto como um privilégio este Tempo. Quando acabar, lá terei que cair na crise, nos problemas do trabalho, se ainda existir, sei lá! Aproveitemos estes dias de Felicidade Rara.
      Beijinhos de Mãe para Mãe
      Sofia

      Eliminar
  3. Puxar os cabelos fio a fio...é divinal!
    Beijinhos
    Sofia

    ResponderEliminar
  4. Ola Sofia, o André é mt engraçado, sempre que esta junto de mim, tem um vicio de ir com as pontinhas dos dedos e apanhar um fio de cabelo, depois apanha outro, e tu sentes mesmo tipo: já me arrancou mais um cabelo, o mesmo acontece se vir alguma roupa que tenha borboto põem-se a apanhar e a puxar um a um, mas é capaz de estar assim mt tempo entretido.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Hoje assisiti a uma aula dada por um neurologista sobre a dor, e toda a explicação molecular sobre a DOR, e o que achei fascinante é o maor intenso que sentimos por uma pessoa, pela pessoa amada, faz-nos sentir nossa a sua dor, deixamos de sentir diferença entro o eu e o outro. Isto tem explicação molecular. E eu pensei na minha filha, na dor que sentia quando sentia o meu amor por ela a crescer, na dor que sinto quando ela sofre, por o sofrimento é um prolongar da dor dos outros em nós só possívle porque amamos, possível porque sou MÂE, e que de tudo aquilo que já fiz e vivi aquilo que me deixa mais feliz, e não quero saber se é mau ou não superproteger, mas é assim que sei ser, fazer sentir com ou sem dor mas com muito AMOR, achei lindo o que escreveste. E fico feliz por seres assim e sentires assim

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Tia de Pku,
      Impressionante como a ciência e a biologia molecular em particular, avançam por campos que sempre pensámos ser apenas explicados no campo sensorial. O amor que sentimos pelas nossas crias, provoca em nós um sofrimento intenso, físico e psicológico. O cordão umbilical que nos ligou durante 9 meses, permanece como uma espécie de cicatriz viva em nós, vai condicionar-nos sempre. É incrível e maravilhoso. As crias libertam-se crescendo, marcando a sua autonomia, demarcando-se voluntariosamente, mas nós Mães não temos retorno nem sossego.
      Beijinhos de Mãe para Mãe e Tiaaaaaa de Pku!
      Sofia

      Eliminar
  6. Ola meninas.
    Eu tambem estou nessa situaçao...
    Pois o meu bebe ontem foi a uma consulta metabolica e ta tudo bem com ele, so acham melhor ele ir para um infantario.
    Dizem que e bom para eles, para conviverem com outros meninos e fazerem muitos jogos e actividades onde tudo isso e muito bom para eles.
    Ele tem 2 aninhos e sim sinto que ele precisa de conviver e que gosta muito de brincar com criancas, isso lhe ira fazer bem.
    So que dou por mim a pensar, uma coisa e ter o meu menino comigo, ai controlo tudo que ele come sem deixar ingerir nada que lhe possa a prejudicar muito menos a provar coisas que nao possa vir a comer, tendo receio ou mesmo medo que la no infantario nao tenham esse cuidado tudo, e mesmo quando algum menino faz anos por norma eles levam bolos assim sem o infantario contar e penso, como vai ser com o diogo, todos a comer e ele a olhar... em casa ele pode ser comer dos bolos e lanches para ele la nao.
    Sinceramente gostaria de o meter num infantario mas alguem me pode dar uma opiniao sobre este assunto e estas duvida??
    Bigado e beijinhos para todas e pos vossos meninos/as :))

    ResponderEliminar
  7. Diana,
    A minha experiência é semelhante à tua. Nas consulta de Metabólicas e também na de Desenvolvimento, os médicos sempre me disseram que a socialização num infantário seria muito estimulante para o desenvolvimento do meu menino. Eu já no ano passado fiz as pré-inscrições e depois quando chegou a altura de decidir desisti e fiquei com ele em casa. Na verdade, sempre temi mais do que a partilha da responsabilidades com a alimentação, as infecções da primeira infância. Nos primeiros tempos, os infantários são mais do que tudo, "infectários", e eu também não exerço uma actividade profissional que me permitisse ter baixas sucessivas para ficar com ele em casa doente com as viroses e infecções respiratórias a que são tão atreitos nos primeiros anos. No meu entender é uma decisão que tem que ser ponderada com os vários factores em causa. A nossa disponibilidade para dar apoio durante estes primeiros anos, a qualidade do infantário, fundamental! a responsabilidade que temos como educadoras de lhes dar uma atenção focada e lhes proporcionar estimulos que não os deixem ficar para trás, etc. O desenvolvimento neurológico é muito intenso nos três primeiros anos de vida, e esse também foi para mim um marco fundamental na minha decisão, quis protegê-lo ao máximo neste tempo. Entendi as indicações dos médicos como indicações a serem ponderadas e tomei as minhas decisões. É uma opção fundamental que nos divide bastante, a análise entre o que será melhor para eles é difícil, tive e tenho imensas dúvidas. Acredito plenamente na responsabilidade das educadoras e no profissionalismo dos infantários, bem acompanhados, claro. Tenho a certeza que são ambas duas boas opções desde que haja um bom acompanhamento e uma boa escolha de infantário.
    Não ajudei nada, eu sei! Acho que nunca temos certezas, nestas opções importantes. Mas devemos avançar, mesmo com dúvidas.
    Beijinhos
    Sofia

    ResponderEliminar
  8. Olá Diana,
    O meu Vasco está no infantário desde os 6 meses e em termos alimentares tudo tem corrido bem. Claro que não me livrei das doenças da 1ª infância mas dessas ninguém se livra, por melhor que escolha o infantário, e mesmo estando em casa elas também chegam lá.
    Quando ele foi para o infantário entreguei uma declaração do Hospital com a caracterização sumária da doença e o folheto informativo. A alimentação sempre levei de casa.
    A partir do momento em que ele passou a comer sopa e prato, deixei de reserva no infantário uma sopa embalada (das marcas que já aqui publiquei) para o caso de alguma coisa correr mal com a comida que leva de casa ou caso vomite. Também deixei no colégio uma embalagem de puré de fruta, outra de papa nutribem para qualquer eventualidade, e bolachas hipoproteicas para ele comer durante a manhã ou tarde, assim como os outro meninos comem as suas bolachas. Também deixo no infantário alguns cupcakes(ou fatias de bolo) congelados, para ele comer quando haja festas ou aniversários imprevistos. As situações que refere podem ser sempre acauteladas. Por outro lado considero que no infantário compreenderam a doença, também porque têm algumas crianças com alergias alimentares e têm imenso cuidado com o que cada um come. Boa sorte Diana e vai ver que tudo correrá bem. Se tiver mais alguma dúvida estamos cá para ajudar. Beijinhos

    ResponderEliminar
  9. Boa noite.
    Muito obrigada Sofia e Paula Viegas por a ajuda e sim a vossa opiniao e conselhos ajudaram me muito :)))
    Agradeço imenso por toda a ajuda um enorme beijinhos e muito obrigado :-***

    ResponderEliminar