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02/11/2018

A escola e o refeitório - A primeira semana do João

Cumpri esta semana um dos meus objectivos do ano, a participação plena do João nas refeições da escola. O meu menino da lancheira vê a partir desta semana a sua lancheira muito diminuída pois a partir de agora vai comer a sopa da escola, a salada e a fruta. A não ser que a sopa seja de feijão, ou grão ou que tenha massa.
O João Pku, agora com 9 anos e no 5ª ano do liceu, entra na fila do refeitório com os amigos da turma, passa o cartão carregado de refeições, agarra no tabuleiro como os outros, nos talheres, no copo, as funcionárias servem-lhe uma malga em aço inox cheia de sopa,  um prato com muita salada e uma peça de fruta.
-Mãe, a fruta é horrível, manda-me fruta de casa!
- Não quero saber, tiras uma peça de fruta como os outros. Se não te apetecer, guardas e comes no lanche.
Ninguém sonha a felicidade que me provocam estas reclamações! Hoje mandei-lhe na lancheira, uma caixinha cheia de melão, duas mini-bôlas de legumes para completar o prato e os lanches, claro.
Com a professora responsável pelo refeitório, pude conhecer as senhoras que servem as refeições, apresentar o João, ensiná-lo a usar o microondas da escola, explicar brevemente as limitações do plano alimentar. A professora, que por acaso se chama Juliana ( um nome perfeito para tratar destes assuntos!), demonstrou grande sensibilidade relativamente à doença do João, e contou-me que também tem na sua família directa um caso de doenças hereditárias de transmissão genética. Somos muitos os Raros! Tenho que sublinhar o tratamento VIP que foi dado ao João por esta escola que afinal me está surpreender tão agradavelmente. Para simplificar o quadro do João, colocou-o na lista dos vegetarianos, o que me pareceu bem, apesar dos riscos.
Saí da escola depois de ter comprado as primeiras refeições do João, com creme de cenoura para quarta-feira e caldo verde para o dia de hoje. João, não comes a rodela de chouriço!
O panelão de sopa tinha óptimo aspecto, a mega taça de salada cheia das cores preferidas do João, couve roxa (yupiii!) beterraba (espectáculo!), tomate e sei lá mais o quê!
E a cereja no topo do bolo, cruzei-me com as funcionárias do refeitório agora de manhã e para meu espanto quando as cumprimentei e agradeci as atenções com o João, responderam-me as duas;
_ Mãe, não se preocupe, ele é como se fosse nosso filho, vamos preparar a salada à parte e servir a sopa com a malga cheia. Nós somos mães e sabemos como é a vida.

Hoje o meu coração está cheio de alegria e gratidão por tudo isto e quero partilhar convosco esta esperança no futuro e no presente.
Não posso deixar de referir que estas duas senhoras amorosas, vou jurar que são caboverdeanas de origem, com a expressão mais simples e natural de maezonas, me deram uma lição de humildade e amor ao próximo.
Há esperança enquanto houver humanidade nos nossos corações.
Sophia