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O carrossel dos valores |
Ao fim de quase cinco anos de intensa vida de Mãe de Pku, continuo sem uma explicação racional que me satisfaça para as súbitas subidas e radicais descidas dos valores dos doseamentos. Tenho invariavelmente que arcar com as culpas dos aportes, "Ó Sofia, o que é que o João comeu? Tem que tomar cuidado com alimentação, não pode deixá-lo petiscar umas batatinhas fritas! Corte a batata, seja rigorosa.
Sou eu que assumo desde sempre o controlo da alimentação, logo sou eu a "culpada". Não está doente, não está constipado, está bem disposto, a culpa só pode ser dos aportes, logo, minha.
Estou farta de dizer que não há prevaricações, que controlo rigorosamente a alimentação e as "partes", que se o deixo petiscar meia dúzia de batatas fritas (ai, ai!), compenso ao jantar, corto-lhe no prato, retiro a batata da sopa, dou a volta de qualquer maneira. Seria bom que o resto do mundo percebesse que nós já temos o "mestrado" nesta história, que já sabemos de olhos fechados fazer a gestão da proteína no prato. Dá aqui, retira ali, tira dali, compensa aqui. Irrita-me esta facilidade em atirar as culpas para cima dos aportes. Eu sei, tenho a certeza que não foi por aqui, se facilmente caímos nas armadilhas da rotina, sabemos bem que não se podem correr riscos com os nossos ai-Jesus.
Ora o João, surpreendentemente, sem aviso nem sinal, salta de um valor óptimo de 3,5 no doseamento para um 6,9. E o João super bem disposto, sem tosses nem constipações, ora, levo logo com uns olhares laterais do Pai a dizer, só podem ser os aportes! Recebo o telefonema (abençoado!) da praxe do Hospital: Ó Mãe o que se passa? Está doente, constipado? A alimentação? Nada? Tem a certeza? Tenho. Então, vamos cortar a batata e a banana, e depois vemos como corre o próximo doseamento.
O que mais me irrita nesta história é que apesar da minha total confiança no colégio, e no controlo da alimentação que está nas minhas mãos, fico mesmo mal disposta com um vago sentimento de culpa. O que aconteceu desta vez, e não foi a única, é que eu não alterei nada na alimentação, não cortei a batata nem mais nada, apenas tentei que as rotinas fossem mais rigorosas, horas de refeições e sono. Por acaso houve neste fim de semana uma coincidência rara de festas de aniversário fora de casa, em que o João, para mal dos meus pecados atacou as proibidas batatas fritas de compra, deitou-se tarde, esticou a corda. E logo, para cumulo nos dois dias, Sábado e Domingo.
Na segunda feira, eu estava com os meus sentimentos de culpa no auge, os resultados do Doseamento na segunda feira, pela lógica, só poderiam ser maus. Na quarta feira os resultados chegaram e o João desceu abruptamente os valores de 6,9 para 1,8. E esta?
Soube-me bem ouvir o extremoso Papá a concluir o que para mim é seguro, "Não percebo nada disto."
Respiro logo melhor quando ele anda com bons valores apesar de não gostar de valores tão baixos, é caso para dizer que nesta história 1+1=3 e que vamos fazendo apenas aquilo que está nas nossas mãos. E que Deus os proteja.