People who are different change the world

07/04/2014

2 Anos Metabólicos

Já faz dois anos que a nossa vida mudou…e se mudou!

Tudo corria dentro da normalidade, para pais de 1ª viagem,  até receber um telefone do Hospital de Santa Maria a informar que o teste do pezinho do nosso pequeno príncipe estava alterado e para nos dirigirmos com a maior brevidade possível ao Hospital! Questionei o que seria mas claro que a explicação pelo telefone foi pequena, apenas que podia ter uma alimentação diferente.

Neste momento nem sabíamos o que pensar, foi um fervilhar de pensamentos…
Lá nos dirigimos ao Hospital e falamos com a médica e foi neste momento que o nosso mundo caiu, uma fase da vida que deveria ser de pura felicidade, tornou-se num tumulto de sentimentos, emoções, medos….Impossível descrever tudo o que pensamos e sentimos naquele momento e nos dias seguintes. Estávamos a entrar para um mundo que nem sabíamos que existia.

Fizemos as análises para confirmar o diagnóstico e claro veio a confirmação – Acidúria Glutárica tipo I – que nome grande e estranho …. A partir deste dia tudo começou!
Aprendemos a fazer o leite especial, parecia que tínhamos uma fábrica em casa, 8 biberons diários e pouco a pouco fomos descobrindo e aprendendo coisas sobre esta doença estranha!

Graças a Deus encontramos este Blog, que foi sugerido pela Dietista, e no meio do reboliço que vivíamos foi a nossa luz ao fundo do túnel. Posso dizer que graças a este blog e às pessoas maravilhosas que encontrei, ganhamos forças para seguir em frente e acreditar, diria mesmo que me ajudaram e ajudam a manter a minha sanidade mental.
Mas os primeiros 3 meses para mim foram os mais difíceis….Mal falava com o Guilherme, vivia assoberbada de maus pensamentos e a tentar digerir tudo o que estava a acontecer, estava obcecada com o facto de lhe ter de dar o leite às horas certas, de ter de beber tudo, com o stress de bolsar ou vomitar, com a febre (acho que lhe tirava a febre 20 vezes ao dia), com o cocó (se seria diarreia ou normal), resumindo tudo era um drama.

Mas houve um dia em que se fez o “click” e pensei…não pode ser, não posso continuar assim, não era justo para mim, para o meu marido e principalmente para o meu filho e ACEITEI!

Para mim este foi o momento mais importante, ACEITAR que ele tinha esta doença, ACEITAR que era crónica e nos iria acompanhar o resto da vida. Tinha de fazer as pazes com esta situação para começar a viver, porque até aí eu estava a sobreviver, e acreditem a partir deste dia senti-me muito maus Feliz!
Os meses foram passando e as situações foram aparecendo...
Internamentos por bronquiolite, otite, gastroenterite e é nestes momentos que tudo o que é mau nesta doença vem ao de cima, mas com a força que o Guilherme nos transmite conseguimos ultrapassar tudo, porque ele é tão forte, tão corajoso é sem duvida um lutador.

E no meio de tudo isto, ainda haveríamos de ter mais uma consequência desta doença, que acontece em 30% dos casos, a maldita Hipotonia, a Coreia (Movimentos involuntários), que provoca atrasos motores, atrasos na fala, maior dificuldade na mastigação, ou seja, mais desafios que terias de ultrapassar, e tem sido uma procura constante de alternativas para que este atraso seja cada vez mais reduzido.
Aos 8 meses o Guilherme começou a fazer fisioterapia 3 vezes por semana no Hospital da Luz, que tem excelentes condições para fisioterapia +ediatrica e onde fomos sempre muito bem acompanhados http://www.hospitaldaluz.pt/pt/servicos-clinicos/departamentos-e-linhas-assistenciais/?contentId=14984&language=pt#apresentacao 
Com muito trabalho foi evoluindo, não tão rápido quanto pensávamos e desejávamos, mas foi tendo sempre ganhos. 

Quando fez 1 ano iniciamos com a terapia da fala e nesta altura a parte cognitiva preocupava-nos muito. Mas rapidamente percebemos que era um bebé muito inteligente, pois sem dizer nada e locomoção bastante limitada percebia tudo, cumpria ordens, muito curioso, atento, o que nos deixou mais descansados. 

Mas a parte motora estava muito abaixo das nossas expetativas, pois sempre pensamos que a recuperação seria muito mais rápida, mas afinal não era… e aqui procuramos alternativas e encontramos a clinica Love4Kids (http://www.love4kids.pt) , que tinha uma terapia de nome CME – Cuevas Medek Exercises (http://www.cuevasmedek.com ), que é recente em Portugal e que foi desenvolvida por um Terapeuta Chileno, Ramon Cuevas, especificamente para crianças que sofrem de atraso de desenvolvimento motor.
Em julho de 2013 iniciou esta terapia 2 vezes por semana em conjunto com a fisioterapia. Com o CME rapidamente vimos muito bons resultados, maior estabilidade, sentar-se sozinho de frente, começou a gatinhar, ou seja, excelentes resultados em muito pouco tempo. E decidimos intensificar esta terapia e abandonar a fisioterapia convencional. Foi a decisão mais acertada, pois de dia para dia vemos evolução e ganhos que melhoram a qualidade de vida do Guilherme.

Claro que a nossa procura não parou, e a verdade é que no meio deste mundo encontramos pessoas e terapeutas maravilhosos que fazem o seu trabalho por amor às crianças e sempre na procura do melhor e tenho de agradecer muito à clinica Love4Kids que procura constante alternativas dentro e fora do pais e tenta para as disponibilizar aos nossos meninos

E nessa procura fizemos em Dezembro de 2013 na clinica Love4Kids uma terapia intensiva de nome Anat Baniel (http://www.anatbanielmethod.com), com um terapeuta espanhol que veio a Portugal aplicar o método. Gostamos muito do Anat Baniel e vimos resultados, maior estabilidade, melhor transferência dos objetos, mãos mais abertas.
Recentemente iniciamos com a terapia ocupacional, que também já esta a trazer frutos, novos movimentos, motricidade fina mais estável, maior autonomia…
Assim, hoje o Guilherme é um menino muito muito trabalhador, faz 4 vezes por semana CME, 2x semana Terapia da fala e 2x semana terapia ocupacional e acreditem que ele adora todas as terapias e é muito empenhado nas suas tarefas e gosta sempre de fazer tudo bem!

Senti necessidade de passar a nossa experiência com o objetivo de dar força a todas os pais que passam por situações semelhantes à nossa e dizer que não desistam nunca, por mais que tudo vos possa parecer escuro o importante é lutar, procurar sempre o melhor, acreditar e nunca desistir!

Tenho muito orgulho em ser mãe de um menino com uma doença metabólica!

Beijinhos
Maria João


4 comentários:

  1. Querida Maria João,

    Não há palavras para expressar a emoção que sinto ao ler as tuas palavras. É a vossa história contada do momento longo e intenso em que a vossa vida mudou, mas também ao lê-la me revejo na minha própria história, do dia em que a minha vida também mudou com a notícia telefonicamente transmitida, da obsessão dos 8 biberons, da rotina cumprida em sofrimento e angústia com o desconhecido, do sentimento de medo permanente de não conseguir. E da fase seguinte, da descoberta que conseguimos lidar com estas doenças, que conseguimos ser felizes com os nossos princípezinhos e que tudo vale a pena por eles e com eles.
    Também me lembro muito bem do dia em que vos conheci, e de vos ver chegar com o Gui muito querido e redondinho na cadeirinha ao belo Parque das Necessidades. Acho que este lapso de história em comum que temos no universo das metabólicas, nos permite uma comunicação imediata, e a passagem de um testemunho e de partilha é directa, sem cerimónias entramos fundo naquilo que nos é precioso, os nossos meninos. Uma pequena e minúscula rede, que nos ajuda, ajudando. Falamos a mesma linguagem, apesar das grandes diferenças de cada uma das patologias. E há também os afectos que espontaneamente aparecem, as empatias.
    O teu post, tem também um manancial precioso de informações práticas, de direcções que serão utilissimas a outros Pais que precisem de recorrer a estas terapias.
    Se a Fenilcetonúria é pouco conhecida a Acidúria Glutárica Tipo I é muito menos conhecida e muito mais rara!
    O Gui tem uma sorte do tamanho do mundo de ter vos ter como Pais e o futuro será uma conquista feliz.
    Muito orgulhosa de ti
    Sofia

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  2. Maria João,
    Adorei ler o teu post. O momento em que recebemos a notícia é sempre dramático e eu demorei mais do que tu a fazeres as pazes e a aceitar a doença do meu filho.
    Admiro-te imenso e acho que o pequeno Gui não poderia estar melhor entregue.
    A Sofia já disse tudo o que era importante dizer, e acrescento que também eu estou muito orgulhosa de ti.
    Quero apenas que saibas que podes contar comigo, sempre, para o que for necessário. Beijinhos

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  3. Obrigada AMIGAS!
    São também vocês que me dão força e me ajudam a acreditar e as vossas palavras deixa-me com a lágrima no olho!
    Com a nossa história só queremos ajudar e dar força a outros pais que passam por situações semelhantes, para que Aceitem e nunca deixem de Acreditar.
    E como tu dizes Sofia, há lapsos na historia :)...o dia em que vos conheci, que adoramos e foi fantástico, não imaginam o bem que nos fez, a Família que está sempre ao nosso lado, a Fantástica Babá do Gui, os amigos que estão sempre a passar-nos energia positiva, os médicos que dão um excelente acompanhamento.... e no final do dia atrás de uma coisa má encontrei um mundo de coisas boas que fazem tão bem!
    Bem Haja a todos e a vocês as duas, Sofia e Paula um bem haja muito especial!

    Beijinhos
    Mª Jão

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  4. Quero partilhar contigo a grande emoção que senti ao ler as tuas palavras...
    Sinto-me egoísta ao pensar nos momentos em que estive chateada com a vida por ter filhos saudáveis que mais não tiveram que os problemas comuns em crianças: otites, broquiolites, e afins...
    Parabéns Maria João, pela coragem de encarar este 'problema' de uma forma tão positiva e pela luta contante na tua procura por uma vida mais feliz para o Gui.

    Beijinhos
    Susana

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